Spotlight 5 – Novembro, 2022

Spotlight 5 – Novembro, 2022

A tendência macroeconómica global mais marcante entre o final da segunda guerra mundial e a crise financeira foi a aceleração das relações internacionais, em particular do comércio e do investimento externo. Os principais motores para esta tendência foram o desenvolvimento e alargamento da União Europeia e a integração da China nas cadeias de valor global e na Organização Mundial de Comércio, arrastando consigo os países do sudeste asiático.

No entanto, desde a crise financeira, esta tendência inverteu-se, tendo o comércio internacional vindo a perder peso na economia mundial. As relações inter-regionais têm vindo a ser substituídas por relações económicas intrarregionais. Em parte, este fenómeno decorre de uma desaceleração da economia chinesa. Mas, mais recentemente, é também reflexo de uma política mais protecionista, justificada em particular com segurança de abastecimento de certos bens essenciais que se revelaram mais escassos durante a pandemia e, agora, com a guerra da Rússia à Ucrânia.

A União Europeia, por sua vez, tem sido, desde a sua criação, um forte promotor da globalização. A par com o desenvolvimento do mercado interno, tem procurado, ao longo dos anos, fazer do comércio internacional uma bandeira de referência da sua economia.

Face aos constrangimentos nas cadeias de abastecimento colocando em causa a segurança nacional, a União Europeia tem agido com diversos planos de modo a reduzir a sua dependência de países externos, sobretudo em matéria de bens essenciais (como por exemplo, as áreas da energia, saúde e digital). Neste enquadramento, em que o regionalismo está a substituir a globalização, a União Europeia encontra-se bem posicionada para reforçar as transações intracomunitárias e ganhar poder negocial face a outras regiões. Contudo, a segurança nacional deve ser mantida através de um equilíbrio entre produção local e diversificação das cadeias económicas, evitando o risco de regresso a um protecionismo que vise meramente amparar os produtores nacionais. Isso seria um erro para o crescimento e até para a segurança nacional e europeia no longo prazo.

Portugal, por sua vez, é um dos países com menor grau de abertura na União Europeia. Recentemente, tem beneficiado da tendência “near-shoring” tendo, atualmente, uma forte exposição ao mercado Europeu. O regionalismo traz consigo oportunidades para Portugal devido a indicadores muito favoráveis no que diz respeito à segurança, qualidade de jovens formados e na produção de energia renovável. Contudo, os riscos não devem ser menosprezados nomeadamente aos que estão associados à exposição económica, designadamente do investimento, do emprego e do comércio, a países fora da União Europeia com risco político elevado.

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